sábado, 26 de setembro de 2009

Convença-me

logo_rio 2016 Rio 2016.

Acreditar que a candidatura da cidade para sediar os Jogos Olímpicos daqui a 7 anos é uma benção para a cidade, o país e o planeta é uma das minhas tentativas desesperadas de limpar um pouco do cinismo da minha alma.

Mas está difícil.

Toda vez que o Rio se candidata – e nem adianta São Paulo ou outra cidade tentar, vejam, o Rio é a cidade-símbolo do Brasil lá no gringo – a primeira promessa que empolga os ouvidos incautos é de que a estrutura criada para os jogos vai beneficiar a própria cidade. Muitos empregos gerados, muitos investimentos em áreas hoje deixadas de lado, mais turismo ainda para a cidade, enfim, uma grande oportunidade de resolver os problemas cariocas (e por extensão, alguns dos problemas brasileiros).

O interessante é que, se não formos escolhidos, todos estes lindos planos voltam para as gavetas empoeiradas de seus idealizadores e financiadores.

O bem-estar da população, a infra-estrutura de transportes e hotéis, a segurança pública, o trânsito, o desenvolvimento do esporte com papel social e também para criar uma geração de atletas de ponta, tudo isso só será possível se houver uma evento de grande porte, em que todo o planeta esteja com suas câmeras voltadas para cá, para que não passemos vergonha. Fazer pelo bem da cidade, das pessoas e do país, não vale a pena.

Futuramente, alguns dos governantes que participam desta empreitada poderão ter um parágrafo especial na Wikipedia, que dirá “foram os primeiros a trazer uma Copa do Mundo para o Brasil e uma Olimpíada para o Rio”. No caso dos Jogos Olímpicos, a primeira na América do Sul. Mas não deixo de pensar que boa parte destes políticos está esfregando as mãos de prazer, pensando nos milhões de reais que irá ganhar em conchavos, arranjos, subornos, superfaturamentos e tudo o mais. A ideia é que toda a despesa seja divulgada na internet. Já fazem isso com os gastos de Brasília e já pudemos perceber que todos os que usaram o dinheiro público de forma errada foram sumariamente punidos, não? Não.

Veja, eu nasci aqui há 27 anos, eu conheço o país. Precisa de um trabalho de marketing quase milagroso para me convencer que o fato de dois eventos esportivos de grande porte ocorrendo no Brasil vão ter a capacidade de mudar a MORAL do brasileiro médio (ou medíocre).

Eu não tenho esperança alguma de ver um jogo da Copa do Mundo de 2014 no estádio. Porque a minha experiência diz que haverá um site na internet que funcionará de maneira precária na venda dos ingressos, que teremos filas quilométricas nos pontos de venda à procura de entradas, que acabarão antes que metade da fila seja saciada. Que aqueles que madrugarem nessas filas ou os apadrinhados de patrocinadores e meia dúzia de famosos é que terão fácil acesso aos jogos, não aquele brasileiro que juntou o dinheiro suado para comprar um lugar na pior parte do estádio, que é a mais barata. Ele bem que vai tentar comprar de um cambista, mas vai ser o triplo do preço. Será que pelo menos a infra-estrutura dos estádios vai melhorar? E o mais importante, vai permanecer? Ou ser destruída pela primeira invasão de torcedores “organizados”, que agridem e quebram porque sabem que jamais serão punidos?

Pelo que tenho lido a respeito, parece que existe uma simpatia pela candidatura carioca junto aos membros do COI, que ignoraram a questão da segurança. Bem, o caos da segurança em terras cariocas deve ser invenção da TV, ou então eles consideram que as ruas e favelas intimidadas por traficantes são um ponto até positivo. Digamos que a pobreza e a rusticidade, de certa forma, encantam os gringos, tem todo um lirismo envolvido, uma coisa meio “bom selvagem” de Rousseau (uma vez colônia, sempre colônia), como se ser pobre e morar na favela fosse belo, fácil e até romântico. Coisa que jamais veríamos em um cidade rica, estruturada e chata.

Ou os membros do COI deixaram todo o seu juízo em algum consultório dentário, ou a situação é ainda pior do que a desenhada pelo meu cinismo : não seria nada mal para o Comitê ter uma Olimpíada por aqui. Eles poderiam alegar que estão democratizando o esporte, trazendo seu evento mais importante para uma cidade do Terceiro Mundo, uma cidade conhecida como “Maravilhosa”, cheia de belezas naturais, famosa ao redor do mundo pela alegria, pelas festas, pelas mulheres com roupas exíguas (turismo sexual, esse sim deve estar bem preparado), pela Bossa Nova, pelo desejo da maior parte da população de sediar o evento e se igualar às grandes Seul, Barcelona, Atlanta, Atenas, Sydney e Pequim, para falar apenas das que eu assisti. Como eu só penso em roubalheira e coisa ruim, creio que até o Comitê pode estar entrando na dança dos dólares. Não estou acusando ninguém, mas eu tenho o direito de pensar isso (27 anos, lembram?).

Olha, nada mais me resta a não ser torcer para que tudo dê certo. Que a Copa do Mundo seja um sucesso e cale a minha boca cínica, que, caso seja escolhido, o Rio faça uma Olimpíada linda e histórica. Que, por um passe de mágica e alguns milhões investidos, todos os nossos problemas e entraves ao desenvolvimento sejam resolvidos em seis, sete anos, ainda que existam e resistam por mais de quinhentos.

Quem sabe…

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