3x0 não é goleada

Vou aproveitar o gancho da vitória do Grêmio sobre o Corinthians por este placar e escrever minhas impressões sobre o assunto.

Um dia, quando ainda era criança ou pré-adolescente, eu estava vendo algum programa esportivo da emissora G., quando o repórter citou em uma reportagem que o time A aplicara uma goleada de 3 x 0 no time B.

Não me perguntem o dia, a hora, os times envolvidos, nem o nome do repórter. É só o que lembro. Achei estranho na hora, nunca havia ouvido aquilo. Pensei que fosse até um engano (erraram no placar?).

Daí em diante, a expressão se espalhou como modinha de novela. Sabe quando aquela atriz usa meia rosa com sapato verde e, de repente, dezenas de mulheres nas ruas, de todas as classes sociais e religiões, começam a usar as mesmas meias e os mesmos sapatos? Podem ser meias de grife ou imitações baratas do sapato vendidas na 25 de Março. Mas, enfim, vira uma febre. Ainda que pareça feio e inadequado.

Pois assim foi, depois que o tal repórter da emissora G. espalhou a nova definição de goleada, a maioria dos demais meios de comunicação aceitou e adotou a expressão, naturalmente.

Dada a audiência da tal emissora, é claro que isso se espalhou pelos torcedores, não sendo raro ver um tirando sarro do outro “meu time goleou o seu por 3 x 0!”. Veja, 1 x 0 é a vitória apertada, 2 x 0 é a vitória ideal (ou “o placar perigoso” - só se for para o adversário), 3 x 0 é o placar tranquilo (ou ideal, para os temerosos do 2 x 0) e acima de 4 é goleada. Perdemos uma fronteira entre o placar “normal”  e a verdadeira vitória com folga. Continuei achando estranho e assim permaneço até hoje, estranhando.

É estranho esse poder de determinar o que é ou não é, só pelo fato de ser dito na TV.

De qualquer forma, o Grêmio ganhou do Corinthians por 3 x 0. Pra mim, faltou um pra ser goleada. Quer um exemplo de goleada? Vitória 6 x 2 Santos. Aí sim.